Tradicionalmente a temporada de Alta Costura traz um caráter inovador em que os diretores criativos buscam imagens fortes, muitas vezes conceituais, para atender um público específico, uma pequena (diga-se minúscula) parcela da população global com altíssimo poder aquisitivo.
Enquanto por aqui no Brasil amargamos a pandemia em meio a uma vacinação tímida, a Europa já ensaia uma abertura gradual das restrições sanitárias. A moda, à frente do tempo, já vislumbra o cenário ideal, com saídas sem restrições, mas ainda embalada pelas sensações de aconchego, de suavidade que a Covid-19 despertou. E foi com esse espírito que os desfiles internacionais aconteceram, entre 5 e 8 de julho.
Algumas marcas, como Chanel, Dior e Armani Privé optaram por desfiles presenciais, com uma plateia restrita e transmissão ao vivo pelos seus canais digitais. Ao todo, 24 marcas realizaram os desfiles virtualmente.
Armani, que foi o primeiro a cancelar a apresentação o ano passado, quando teve início a pandemia, escolheu a embaixada italiana em Paris para mostrar sua Alta Costura. Que veio com muito brilho e muito cor de rosa. Já Chanel e Dior optaram por peças mais discretas, em looks mais minimalistas. Virginie Viard, da Chanel, aderiu ao estilo Cottagecore, com estampas miúdas, suavidade e um certo romantismo. O tradicional tweed esteve presente em ambas as marcas. A mensagem que ficou foi que pós pandemia os arroubos criativos e exóticos devem ser contidos.
Balenciaga retorna com destaque e Jean Paul Gaultier vem com designer convidada
Após 53 anos afastado, Balenciaga retornou, de forma triunfal. Elementos históricos estiveram presentes na coleção e os looks oversized que predominaram na alfaiataria, com Demna Gvasalia à frente da Maison. "Em uma época de produção em massa, a Alta Costura é essencial para a sobrevivência e evolução futura da criação da moda moderna", disse ele numa nota enviada à imprensa.
Jean Paul Gaultier anunciou sua saída o ano passado e, desde então, designers convidados fazem coleções cápsula para a marca. Agora, na semana de Alta Costura, a convidada foi a estilista Chitose Abe (da japonesa Sacai) que trabalhou com detalhes que caracterizam a marca, como as listras de marinheiro e as estampas que nos remetem a tatuagens.
Alfaiataria em alta
As peças de alfaiataria como ternos e paletós vieram trazendo seu rigor de modelagem em peças mais amplas. Talvez revelando a vontade de voltar a um trabalho presencial, depois de quase dois anos em home office. Mas que não escaparam aos detalhes lúdicos na Schiaparelli, ao estilo genderless, mais solto de Valentino e até em Armani, mais ajustado ao corpo e com brilhos. O branco total apareceu em Fendi e em Chanel, neste último com formas mais arredondadas, que suavizavam a sisudez a que nos remete um terno.
O que se viu nessa temporada reflete o momento em que estamos vivendo, alguns com mais, outros com menos, esperança. Porque a moda, ah a moda, ela visita o passado sempre com os olhos no futuro. E que ele chegue logo!
Por: Marta De Divitiis
Cadastrado em 27/07/2021